terça-feira, 7 de outubro de 2008

Foi um Curso... e acaba num avião.

O que fazer quando se está assistindo a uma palestra depois do almoço? Pior, a palestra não tem muita importância, porque eu já conheço o assunto. Manter os olhos abertos é uma tristeza; o sono me embala e, parece que capricha, esse Morfeu1.

Fui ao banheiro e lavei os olhos com água gelada, porque aqui no Canadá tudo é gelado

O sujeito fala; eu as vezes dou uma olhada nos slides. Ele, um cara "entroncado", esforça-se para explicar um assunto "batido"... opa! Meus olhos fecharam! quanto tempo ficaram abertos? Não babei ao menos, mas ela, a baba, já me chegava aos beiços.

Tomar um "chafé" não agüento mais. Eles, adoram sorver uma caneca cheia dessa coisa que eles insistem em chamar de café. Todos aqui bebem café com bastante água quente; é um café fraquinho. Olho em volta e todos estão esforçando-se para manter os olhos abertos também; todos se entreolham, impressionante, a curiosidade humana!

Bom, então, resolvi escrever uma crônica, ou melhor, cronicazinha. Talvez a Menina se interesse... Florbela Espanca... Pensando bem, acho que ela vai achar divertido; vou ganhar um sorriso. Bem sei que não vou terminar isto enquanto estiver aqui; quando voltar ao Brasil, ... quem sabe?! Mas vou tentar e, aproveitar para fazer minhas impressões deste povo; já fiz "caquinha"2 ontem. Pronto, terminou a apresentação; palmas. Mas tem mais uma...

Ontem foi um dia agradável, um passeio de barco pelo "Rideau Canal"3 – uma cena bucólica; talvez igual àqueles passeios pelo Sena. Uma chuva fria e o frio atrapalharam um pouco a festa; a Menina iria gostar, teria idéia de como a iria aquecê-la aqui. Acha-se um jeito, mas pensa-se logo naqueles apertos; juntinhos, um sentido o coração do outro bater lentamente, feliz... só o "calor" não poderia aumentar... uns beijinhos pode!

Fabio Fattori, um cara da Itália, convidou-me para uma saideira, mas o bar do hotel estava fechado, e em Kanata, onde estou hospedado, barzinho é uma coisa rara, mas a sorte estava do meu lado.

Hoje acordei um tanto cansado, tomei um remedinho para diminuir a ansiedade, mas dá um sono, e, já começo a ficar preocupado com a tarde. Ainda temos um longo dia pela frente.

Lavei o rosto – virou hábito – e estou tomando uma caneca de "chafé" – virou hábito -; melhora, mas o que salva é escrever essa crônica e saber que a Menina vai ler, e... ganhar com certeza, vários sorrisos; acanhados, talvez... não! Tímidos! Mas really true.

O palestrante agora é até um amigo de longa data. Disse-me que tem uma filha de poucos dias e ainda está na fase da coruja, ou talvez não acreditando de que foi capaz de tamanha façanha. Não sei porque lembrei agora de Cathy4; talvez de alguma maneira a Menina – observe agora que menina virou substantivo – tenha algo a ver com isso. Fui embora do Canadá.

Entrei numa livraria para passar o tempo e fui procurar algum pocket book5, mas estava muito caro, pedi então a ajuda da atendente. sobre biografias. Tinha ficado interessado por uma de Saladino

Era de uma beleza encantadora (todo mundo diz isso), cabelos castanhos e olhos azuis e pele alva como talco. Todos sorrisos, perguntou no que poderia ajudar (sem ironia, após nove dias "sem", uma pergunta dessas cai numa parte do cérebro totalmente inescrupulosa). Usava uma blusa de mangas lilás, um pouco folgada; percebi no ato que não usava sutiens. Aquela visão repercutiu; imagine. Respondi o que estava a procurar e, ela, imediatamente me levou à seção de biografias. Um brasileiro que ande atrás, digo, logo atrás, de uma mulher e não olhar para a bunda dela... tem algo errado! Não sou santo, nem tampouco tenho pretensões; cravei-lhe os olhos e fiz conjecturas (quando se é canalha, acha-se palavras bonitas para tudo!). Realmente fora dos padrões americanos. Quando paramos na seção, enfiei-lhes novamente os olhos, sem pudor, nos seios dela. Ela percebeu, e, meus esforços foram inúteis para tentar desviar o olhar; meu cérebro não deixava. Agora claramente ela percebeu.

Um frio na espinha e uma sensação de pavor, inundou-me instantaneamente. Por um lapso de tempo, imaginei um monte de coisas e, fiquei estático. Fui encarado. Sua expressão era normal, cordial, como antes; imediatamente toda sensação ruim, desapareceu. Um sorriso meigo; um perdão... um querer, um pseudo consentimento; eu poderia partilhar aquele bem. Uma empatia enorme dela e um presente divino.

Ela abaixou-se para pegar um livro, que parecia ser de Saladino. Não! Isso não! Isso não pode estar acontecendo, inacreditável o presente divino que acabou de chegar! Foi melhor que a encomenda.

Naquela penumbra do interior da blusa, brotava um contraste branco, perfeitamente distinguível e, fixando mais, o branco esmaeceu-se em cores, e eles a mim foram revelados, como um presente dado a uns poucos.

Ela voltou-se para mim e, com o semblante, disse-me que tudo aquilo fora de sua percepção; levantou-se e tudo desapareceu, mas aquele momento ficou gravado para a eternidade. Sem consolo algum, fui-me. Apenas disse um "obrigado!", e, um sorriso expressivo, desapontado talvez, foi deixado lá. É hora de procurar o portão de embarque; desde que entrei na livraria, eu estava em aeroporto de JFK, NY.

Chegando ao portão de embarque fui ao telefone e deparei-me com uma confusa figura de mulher, com gestos rápidos e expressão nervosa, agitada. Hoje é meu dia, pensei. Ela olhava a todos em volta, com a mesma expressão; um misto de ansiedade e medo, e a todos que a miravam, sapecava um sorriso maroto. Hoje o dia parece uma mentira, que não sei contar. Olhos limpidamente azuis, transparentes. Cabelos em pequenos cachos loiros-castanhos. Fui-me.

Depois de enrolar o tempo, terminei sendo um dos últimos a embarcar e, isso se devia ao fato de eu ter "merecido" uma poltrona no meio – detesto, prefiro o corredor – e tentava usurpar da sorte uma poltrona vazia no corredor, logo descobri que isso seria inútil, pois o vôo estava lotado. Sai procurando a tal da poltrona; 24B era ela. Ao longe avistei a garota "exaltada" do telefone que eu tinha visto minutos antes. Não é que fui recebido com sorrisos, e acredite, a minha poltrona era a do meio, ao lado dela. Hoje, definitivamente é meu dia. Arrumei minhas coisinhas no bagageiro e fui sentar. Como não deixo nada pra depois, comentei que tinha visto ela ao telefone no portão de embarque e falei que ela parecia estar exaltada, alegre. Ela disse estar exultante por ir passar uma temporada no Brasil, pois seus pais são brasileiros, havia nascido lá, depois morado no Brasil, mas havia tempos morava nos EUA novamente; mas ela arranhava o português direitinho. Mas estranhamente preferia o inglês.

"24B, caramba! 24 é o número da minha poltrona; será que ela é ele?..." Usava uma daquelas calças e blusa tipo "bata indiana", tudo bem folgado e, pela textura da blusa, percebi que não usava os benditos soutiens. O dia hoje nem mentira é, e sim, brincadeira com a tesão alheia.

O formato "pêra" ficou nítido. De repente abaixou-se para pegar alguma coisa na bolsa aos seus pés e o mundo abriu-se em luz. De mentira, sim, era aquela visão! Em menos de uma hora! Desta vez a luz de leitura estava acesa, focando um livro inexistente com suas páginas abertas, as duas páginas escancaradas, iluminadas. Parecia a continuação... Era a continuação; aparentemente não houve separação de peças, apenas ocorreu um lapso de tempo insignificante, como que para os atores trocarem de roupas e cenário. Já nem lembrava do rosto na cena anterior, então deveria ser o mesmo. Assim a cena se repetiu por algumas horas, pois conversamos bastante e, ela, impetuosa, a cada instante "deixava" eu apreciar aquela brancura com duas pétalas róseas. Já me alcançava o priapismo, apesar do meu ser de desejo mesmo (aprenda mais sobre priapismo).

Enfrentar quinze horas contínuas de vôo não é uma coisa muito agradável e dormir é o melhor remédio. Ela começou a passar um creme nas pernas, arregaçando as pernas das calças até as coxas; fácil essas calças folgadas. Pela musculatura e meus olhos grandes perguntei se fazia alguma atividade física; "corro algumas milhas por semana" foi o que ouvi, pudera. Atiçou-me mais, aquelas pernas branquelas (agora começo a fazer desdém!) e a mente saiu em desvairada correria pelo infinito, como a procurar materializar o pensamento. "Talvez no banheiro; digo para a aeromoça que ela está passando mal, quer vomitar, sei lá!... Caramba 'uma' no banheiro do avião! Meus netos vão saber disto!".

De vez em quando minha perna "escorregava" para as dela sorrateiramente, roçava um pouco e voltava. Ela dava umas risadas meio desdenhosas, mas não retirava a perna; nessas alturas (literalmente) voltei à minha poltroninha. Ela desceu em São Paulo.

1 Morfeu, um dos filhos de Hipnos; percorre o mundo e toca os mortais com uma papoula para adormecê-los; em seguida, assume formas humanas e aparece para quem dorme; os sonhos são essas aparições do deus.

2 Merda mesmo!

3 The Rideau Canal Waterway is a boater's paradise, attracting pleasure boats from across North America to travel its 202 kilometre (125 mile) length. The Rideau Waterway, a Canadian National Historic Site and a designated Canadian Heritage River, consists of a series of beautiful lakes and rivers connected by canals. It stretches from Kingston, at the foot of Lake Ontario, to Ottawa, Canada's capital. Maintained by Canada's Parks service it is arguably the most scenic waterway in North America. Whether you visit by boat, car, or bicycle, the Rideau has something for you.

4 Personagem de O Morro dos Ventos Uivantes, de Emilie Brontë.

5 Salah-al Din ("honrando la Fe"), nacido en Tekrit en el seno de una familia kurda que emigró a Irak, prestó sus servicios al sultán de Siria, Nureddin, y comandó una misión militar de defensa de Egipto frente al ataque de los francos y con el objetivo de eliminar del poder a la dinastía de los fatimíes, considerada herética. Tras tomar Egipto en 1169, obtuvo el cargo de visir del sultán fatimí, a quien sucedió en 1171. A la muerte de Nureddin en 1174 tomó Damasco, Emesa y Hamah, y un año más tarde conquistó Baalbek y los territorios cercanos a Alepo, concediéndole el califa el título de sultán de Egipto, Nubia, Cirenáica, Yemen, Palestina y territorios de Siria. Conquistado definitivamente Alepo en 1183, y obtenido el vasallaje del príncipe de Mosul en 1186, lo que le procuraba el contro sobre Siria, emprendió la conquista del Reino latino de Jerusalén. En 1187 venció en la batalla de Hattin, lo que le permitió invadir todo el Reino menos los sitios de Antioquía, Trípoli y Tiro. Jerusalén cayó en 1187, lo que provocó la reacción de las potencias occidentales y el inicio de la Tercera Cruzada. Derrotado en Arsuf, Jaffa y Cesarea por los cristianos liderados por Ricardo Corazón de León, ambos contendientes firmaron un tratado de paz en 1192 que aseguraba la existencia del Reino latino de Jerusalén, si bien circunscrito a una franja costera y un estrecho corredor hasta la ciudad, ésta en poder de los musulmanes.

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