sexta-feira, 10 de abril de 2009

Não minto, mas tampouco digo a verdade.

Sempre me encantou o enigma dessa frase, palavreada pelo sétimo Imperador Romano, Tiberius Claudius Drusus Nerus Germanicus. Seu primeiro livro, intitulado Eu, Claudius, Imperador! mostra como foi um dos maiores historiadores romanos contando sua própria história e a de Roma; sem ele não saberíamos certamente de muita coisa da História Romana, como a conhecemos hoje. Ele enfatiza, que o livro é escrito por ele mesmo, afirmando ser a habilidade do seu estilo e não a do seu secretário particular. Faz veladas críticas aos "senhores" de Roma, "ou um desses analistas oficiais a quem os homens públicos contam as suas memórias na esperança de que a retórica possa suprir a pobreza do assunto e a lijonsa velar os vícios". A conclusão que o leva a expressar a lógica do título do post, foi pura e simplesmente os fatos que não admitem controvérsias, ou seja, não tem retórica. Quem ouve o lê, simplesmente se vê diante de uma mafinestação da possibilidade do finito. Encerrou, pronto. Você simplesmente lê, acha estranho, pois nosso cérebro fica enrolado nessa contraposição, simplesmente estarrecido pelo aberração de todas as possibilidades serem verdadeiras ou falsas, dependendo do que se analisa, se a falsidade ou a verdade.
Ele trata o leitor como um confidente, com quem conversava, e detalhava, que, quando lendo o livro, você era excluído dessa graça de "entender a frase" e o livro, somente a posteridade: "Desta vez, escrevo uma história confidencial. Quem são os meus confidentes, perguntareis? A posteridade. Não meus netos, nem os netos de meus netos, mas uma posteridade mais remota. E, no entanto, eu desejaria que vós, meus leitores daqui a cem gerações ou mais, eu desejaria que vós tivésseis a impressão de que estou simplesmente a conversar convosco, como um contemporâneo"; e o livro o é. Para a tal conclusão da frase, ele deu como exemplo os fatos de que, tal homem desposou tal mulher; "filha de tal outro, cujos títulos honoríficos enumero; mas nada digo das razões políticas do casamento nem das negociações de ambas as famílias nos bastidores. Ou, então, tal outro morre subitamente, após haver comido um prato de figos da África, mas não falo nem do veneno, nem daquelas a quem essa morte possa ter aproveitado, a menos que o fato seja reconhecido por um veredicto da Justiça: Não minto, mas tampouco digo a verdade, no sentido em que pretendo dizê-la agora".
Também usou para ilustrar, as sutilezas de uma antiga balada, que exaltava que as qualidades de duas frutas, uma doce e outra azeda, as melhores estavam no pomar dos Claudius; a balada coloca Appius Claudius, o Vaidoso, que pôs Roma em polvorosa, abusando de uma menina livre, de nome Virgínia (Elza Virgínia). A canção acrescenta que entre as mulheres dos Claudius há igualmente maçãs doces e azedas, mas que entre elas também as azedas predominam. Usava de irreverência para relatar a História, sua história; também foi contemporâneo de Tito Livio, seu preceptor, memorável historiador romano.
O livro é uma história que foi objeto de toda sorte de falsas interpretações, não somente por parte dos contemporâneos, mas também pelas gerações imediatas. Tanto assim, que todas as passagens de maior importância estão envolvidas em dúvida e obscuridade. De modo que, enquanto uns tomam por fatos verdadeiros as lendas mais inconsistentes, outros transformam os fatos em falsidades. E ambas as interpretações são, por sua vez, exageradas pelos pósteros. É assim que entendo a frase. fui!